Reflexão sobre o carnaval – Por Ricardo Alfredo

Num país que se diz democrático, plural e de justiça igualitária, ainda convivermos com as assombrações sociais; com a fome, com a miséria, e com o descaso das autoridades com a educação, com saúde, com segurança e com a moradia. Eis aí, o bloco do abandono, liderado pelos políticos profissionais e pelo descaso das autoridades.

Somos um povo pacífico, bom, ordeiro, trabalhador, honesto e cumpridores dos deveres sociais. Contudo, temos a dificuldade de escolher nossos representantes políticos, verdadeiros carnavalescos. E é essa, uma característica nossa, personalíssima. O que chamamos de eterno carnaval com a coisa pública.

É incrível quando paramos para observar o mundo que nos rodeia, principalmente quando aguçamos nosso olhar em direção de quem sofre. Até porque, aparentemente, tudo vai bem na vida social do povo. Mas basta, um simples olhar no calendário, e percebemos a implantação ideológica das inúmeras festas, das diversas comemorações e atrações, que agem como analgésico mental, e transforma o pobre e os famintos sociais em marionetes, que logo após o término do aparente júbilo, voltam a vida apenas como sobreviventes, sem direito algum. E assim, na cabeça dos poderosos, tudo vai bem, não há fome; não há miséria; não há homicídios; não há pessoas jogadas nas ruas, os desamparados sociais. A saúde; a segurança e a educação está tudo bem. Bela utopia, que mascara o fracasso social. É o carnaval chegando!

É a nossa festa popular, é o nosso carnaval, que vem comemorando os mais de 40 milhões de famintos e de miseráveis do povo. E os nossos líderes, os mandatários da nação, visualizam apenas como um detalhe, ou usam a linda frase: “depois se resolve”. E assim vem caminhando há décadas, e mais décadas, a nação, para a mais completa miséria. Miséria moral, social, ética e perda dos bons costumes.

Então, somente hoje, fechemos os olhos para a miséria, pois vem chegando o carnaval. É o que anunciam os canais de TV, ávidos pela audiência, dia e noite, anunciando e explorando as folias em todos os Estados, como se fosse o maior acontecimento da história humana, a coisa mais importante do mundo.

Os lindos anúncios convidam para alegra-se nas festas de carnaval, e lançar fora toda tristeza, amargura e as angústias do cotidiano. Lamentavelmente, esse convite não condiz com a verdade, pois a alegria, não está num momento de libertinagem ou de aparente liberdade.

O carnaval que deveria ser símbolo maior da cultura, da interação do jovem com o folclore e os agentes culturais, estão sendo paulatinamente destruído pela cultural do nada. Nada sabem, nada aprendem, nada é importante, nada vale, e assim por diante, estamos criando uma nação sem rumo, sem conhecimento, e sem amor ao próximo, e pior, ficando cada dia mais desumano.

Bem é verdade, que muitos ver no carnaval um momento de esperança em ter um emprego, em ter vendas, em obter lucros, para poderem caminhar mais um ano. No entanto, o resumo do carnaval se dar em algumas palavras, que são: tristeza – porque descobre que perdeu todo senso do ridículo e disso surge o desgosto pessoal; angústia – por ver que só tomou atitude que lhe envergonha, ilusão – as vezes deixa o que certo, para buscar a incerteza, que apenas leva ilusão dos entorpecentes, dos alcoólicos, assim como a ilusão da grandeza dos desfiles que falsamente lança de forma descarada o afronte entre a beleza das mansões e a subvida dos barracos; sensualidade – descobre pelos comentários que se portou de forma indecente e passa a ter vergonha das ações e atitudes tomadas. E por outro lado, a aplaudida sensualidade em forma de nudez dos desfiles, é o carro chefe da venda de pessoas com aparência de felicidade, e quando acordam do sonho da passarela, estão recheados de problemas e profundamente infelizes por dentro.

É, chegou o carnaval! e a loucura destes dias vem deixando o seu rastro em forma de doenças sexuais, como a Aids, abortos futuros, violência, fome, abandono e pobre por toda parte. Entretanto, as emissoras, gritam em voz estridentes, estão na passarela os nossos heróis.

Certamente, os grupos de interesses: financeiro, poder político e seus acéfalos, estão de dedo erguido, classificando a todos que pensam no bem comum, como moralistas casuais, numa época que toda ética, racionalidade e moralidade foram lanças no mar de lama. Porém, diferente desta classificação de moralistas, a verdade é que não podemos deixar de analisar e criticar todos os disparates do mundo da ilusão do carnaval.

Jamais nos colocaríamos contra a alegria e a festividade que acompanha o carnaval. No entanto, jamais seria justo se não alertamos para a diferença entre a euforia que é passageira, e a alegria real.  E é dessa euforia enlouquecida que surgem os diversos problemas que iram perpetuar durante vários anos.

E a alegria real, passa pelos 365 dias do ano. Quando combatemos a fome, a violência, o tráfico de drogas e o tráfico de influência política. Assim como, o alívio das tensões sociais, está no verdadeiro empreendimento, que são as pessoas.

É o carnaval chegou, está nas ruas, nos bairros, nas cidades, nas prisões, na embriaguez, nos olhares perdidos, no falso prazer, no pula-pula sem motivo, na vibração sem razão, e assim nada parece ser real. De modo geral, as ações da sociedade, a falta de personalidade digna, onde os valores humanos estão invertidos e o fruto colhido, são as pessoas cada vez mais perdida, sem rumo, e sofrendo as consequências cruéis dos seus atos impensados. E os dias de feriado, que seria de comemoração, festa e alegria, vem se tornando em dias de angústia e de muito sofrimento para diversas famílias.

Portanto, esses dias devem serem bem aproveitados. E dentro do desejo de cada um, podemos também parar para meditar, ler, pensar, e conviver com os nossos familiares, já que a vida sempre propõe um corre-corre para no dia a dia. E aos que vão sempre a festividades do carnaval, o conselho é simples e prático, mantenha o equilíbrio em tudo, e não permita que a euforia descontrolada lhe conduza a caminhos difíceis.