CONVERSANDO COM… MARCOS FERREIRA – Um escritor e seu folhetim que faz história no mundo virtual – Por Carlos Santos

Escritor polígrafo, Marcos Ferreira de Sousa nasceu aos 10 de abril de 1970 em Mossoró (RN), onde reside desde sempre. Tem figurado entre as primeiras colocações de alguns importantes concursos literários no país. Com a obra “A Hora Azul do Silêncio” venceu os “Prêmios Literários Cidade de Manaus”, na categoria Melhor Livro de Poesia. Além do folhetim “A Cidade que Nunca leu um Livro” (romance publicado aos domingos no Canal BCS), possui obras inéditas nos gêneros conto, romance, poesia e crônicas. Autodidata, Marcos Ferreira atuou na imprensa mossoroense, onde desempenhou as funções de revisor, copidesque, repórter e editor de cultura. Entre outras distinções, foi laureado com os prêmios “José Cândido de Carvalho” (Categoria Contos); “Prêmio Petrobras de Literatura Prata da Casa”, edições do Rio de Janeiro e Salvador (Categoria Poesia); e o “Prêmio Vinicius de Moraes” (Categoria Sonetos), promovido pela editora Companhia das Letras. Abaixo, um bate-papo com ele em relação a uma experiência inusitada: a produção de romance em série, como nos antigos folhetins, albergado em nossa página ao longo de 22 semanas:

Canal BCS – Pelo visto, “A cidade que nunca leu um livro”, concluído no domingo passado (veja AQUI), é o primeiro romance publicado em suporte digital e em série na imprensa potiguar, talvez do País. Como você avalia essa experiência?

Não tenho conhecimento quanto ao ineditismo ou não. Mas acho que isso é uma consequência dos novos tempos, especificamente da blogosfera e das redes sociais. Trata-se de uma linha tão peculiar quanto plural. São os tempos irreversíveis das plataformas eletrônicas e esse é um caminho sem volta. Os veículos impressos tiveram a sua longa e apaixonante época, contudo agora os poucos que restaram vivem a debacle, a asfixia econômica, o crepúsculo de suas edições em papel-jornal. Outros romances digitais, a exemplo de “A Cidade que Nunca eu um Livro”, logo surgirão e esse é um processo que vem desde longa data quando do apogeu dos folhetins publicados nos jornais impressos, momento em que se destacaram, entre outros, grandes vultos da literatura brasileira como Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis.

Canal BCS – Marcos, um romance virtual, ou seja, em plataforma diferente do livro físico, é uma experiência incomum para nós do Canal BCS e acredito que para você também. Como nasceu a ideia?

Eu comecei literalmente do zero, não tinha nada pronto ou em andamento. Num determinado dia, então, eu sentei para escrever a minha habitual crônica que eu veiculava aos domingos no Canal BCS e aí, como o texto é um bicho cheio de vontades próprias, eis que eu senti que aquela suposta crônica havia descambado para algo diferente, uma coisa que me pareceu muito mais um conto ou capítulo de um romance do que propriamente uma simples crônica. Foi aí que tudo começou. Mesmo vivenciando a gangorra da minha saúde instável, eu fiz a minha estreia como folhetinista no Canal BCS e arquei com a responsabilidade de todo domingo ter um novo capítulo de romance para apresentar ao público leitor e, se possível, mantê-lo interessado na trama.

Canal BCS – A construção de personagens, a narrativa, o esforço para prender o webleitor e o fio de ligação entre uma publicação e outra, entre um domingo e outro, são dificuldades enormes à produção, não temos dúvidas. O escritor na plataforma virtual é um novo caminho?

Sem dúvida. A plataforma digital, espaço em que o ficcionista recebe a pressão de fazer o dever de casa chova ou faça sol, é um desafio muito maior do que aquele vivido por um literato que está isento dessa cobrança e escreve, digamos assim, quando se sente inspirado. O escritor que surfa na crista da onda da plataforma digital tem que lidar com uma cobrança muito maior, tanto de si próprio quanto dos webleitores cuja atenção ele despertou.

Canal BCS – O romance é um gênero muito disseminado há séculos no mundo. No Brasil, ele ganhou forma no século 19, com popularização em jornais impressos, em capítulos, o chamado “folhetim”. O Canal BCS e você dão ao leitor cibernético, plugado, on-line, uma experiência que resgata esse período. Como é viver essa realidade virtual?

Digo sem nenhuma economia ou excesso de vaidade que “A Cidade que Nunca leu um Livro”, pelas características já expostas e que envolvem o compromisso de um capítulo semanal para continuar alimentando o fogo da criatividade, foi, até aqui, o projeto mais ousado e desafiador a que me lancei e me propus a realizar. E agora, encerrando essa trama da personagem Jaime Peçanha após vinte e dois capítulos seriais, não posso negar, particularmente, o gostinho de vitória, o sentimento da missão cumprida.

Canal BCS – Tivemos webleitores acompanhando o romance “A Cidade que Nunca leu um Livro” de vários estados do país e diversos municípios do RN, conforme dados de nossa estatística. Como você lida com essa interação ‘estranha’, digamos assim, diferente do que o livro físico proporciona?

Primeiramente, antes que digam que eu não falei das flores, essa é uma notícia que me surpreende de maneira muito positiva. Eu não tinha ideia de que minha história contasse com toda essa audiência. Acho que isso é o coroamento (e aí entram as flores) de um texto e de uma trama produzidos com muita seriedade e respeito aos webleitores de um modo geral. Pois é sempre vital, imprescindível, respeitar o leitor (no caso, webleitor) e coroá-lo com o que podemos oferecer de melhor em matéria de literatura.

Canal BCS – Você considera possível a maior difusão do romance e outros gêneros literários por meio dessa infovia e suas diversas plataformas, como o blog, Instagram, Facebook etc?

Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Tanto que passei muitos anos sem publicar uma só vírgulas nos jornais impressos, quando ainda existiam jornais impressos em Mossoró, exceção para o De Fato, mas aí eu voltei a escrever com periodicidade semanal graças ao BCS — Blog Carlos Santos. A infovia está aberta para todos os gêneros e expressões de arte literária, inclusive o romance. Quanto ao meu retorno a escrever, existe algo que o Canal BCS me ofereceu que outros não ofertaram: motivação.

Canal BCS – No universo criativo, no campo das artes, da literatura à pintura, passando por escultura e outras manifestações artísticas, muitos feneceram sem experimentar o gosto do sucesso de público e o mínimo de bem-estar à vida pessoal. Costumo dizer, usando adágio popular, que “quem incha com bafo (elogios) é cuscuz.” Isso o incomoda e o angustia?

A mim tal patologia (a da vaidade do cuscuz) não acomete. Possuo certa vaidade, sim, mas esta é no tocante a produzir alguma coisa em matéria de literatura e tomar conhecimento de que algumas pessoas estão gostando. Então, levando-se em conta o meu tipo de vaidade, não tenho nenhuma bigorna pesando na consciência. Não sou, muito menos, aquele tipo de literato que tem que dormir de beliche: ele embaixo e o ego em cima.

Canal BCS – Quais os próximos planos literários de Marcos Ferreira?

Antes de responder a esta pergunta, quero agradecer aos webleitores que têm me acompanhado no Canal BCS. Agora, sem querer contar vantagem, no entanto me permitam um tiquinho de imodéstia, possuo um certo número de livros inéditos e que não estão expostos nas prateleiras das livrarias e quejandos simplesmente porque não tenho grana para a autopublicação. “A Cidade que Nunca leu um Livro”, por exemplo, é um romance que gostei de escrever e que eu gostaria de vê-lo publicado em livro físico. Quanto aos meus próximos planos literários, o que pretendo fazer é continuar escrevendo. Isto porque, bem ou mal, não há outra coisa que eu saiba fazer melhor do que escrever. Por falta de habilidade em ofícios diversos, portanto, escrevo.

  • Entrevista dada ao jornalista Carlos Santos, publicada no site https://blogcarlossantos.com.br/um-escritor-e-seu-folhetim-que-faz-historia-no-mundo-virtual/ e cedida gentilmente para republicação.