Pesquisador realizará palestra virtual sobre a vida e obra do cantador de viola Severino Ferreira

O pesquisador Kydelmir Dantas realizará palestra virtual sobre a vida e obra do cantador de viola Severino Ferreira.

O evento acontecerá nos endereços youtube.com/direitoecultura e facebook.com/cultura.fja logo mais a partir das 17h.

Os internautas poderão interagir com o palestrante no momento que será aberto para a participação: “Faço a explanação e depois respostas, se tiver perguntas” comentou Kydelmir.

 

 

 

 

 

Severino Ferreira da Silva nasceu no dia 30 de março de 1951, distrito Cajueiro, da cidade de Touros/RN.

Com pouca instrução escolar, aprendeu apenas a ler, ele começou a vida de cantador de viola aos 16 anos de idade.

Tornou-se um cantador que improvisava versos de extrema sabedoria em qualquer assunto proposto numa cantoria, seja em um festival ou em um “pé-de-parede”.

Severino Ferreira não escolhia dupla. Ele foi parceiro do poeta Ivanildo Vila Nova, de Manoel Xudu, de Diniz Vitorino e de muitos outros poetas, sejam eles famosos no mundo da cantoria ou não e, no dizer de muitos, “Onde cantava, arrancava aplausos.

 

Abaixo, algumas poesias de Severino Ferreira da Silva

 

 

“A casa que muitos moram/ Ninguém sabe quem é dono”

O rei é quem tá no trono
Quando o guarda vem prescreve
Terreno que tem frieza
Só desce garoa e neve
Sei que o velhaco não paga
Mas cobra de quem lhe deve

 

“Não existe amor eterno/Com fome dentro de casa”,

 

Fogo quente é o de brasa
Terra boa é a que alaga
Carinhoso é quem tem jeito
Mão boa aquela que afaga
E língua que muito fala
O “pé do ouvido” é quem paga

O Nordeste Poético ainda chora/ Com saudade de Pinto do Monteiro

 

Sei que Pinto deixou como recinto
A Monteiro que é sua cidade
O Nordeste até hoje tem saudade
De um poeta pacato e tão distinto
Outro galo não faz mais outro pinto
Que seja poeta e verdadeiro
Se pegar a galinha no terreiro
E tentar fabricar o ovo “gora”
O Nordeste poético ainda chora
Com saudade de Pinto do Monteiro.

“Não bote a mão que se fura/ Que é caco de vidro só!”

 

Sou pior do que cigano
Pra entender de magia
Falando em feitiçaria
Passo lição em baiano
Livro de São Cipriano
Decoro sempre de có
Quem for pra meu catimbó
Mergulha na sepultura
Não bote a mão que se fura
Que é caco de vidro só

Da idade de Adão
Matusalém e Noé
Descendente de Javé
Eu aprendi a lição
De Isaac, de Abraão
De José, Dimas, Jacó
Moisés, Sansão, Faraó
Que eu sou mestre em escritura
Não bote a mão que se fura
Que é caco de vidro só

“Não canto sabedoria/ Só sei cantar o sertão”

 

Só sei falar da ressaca
Do homem que se embebeda
Corujão que leva queda
Da cabeça de uma estaca
Canto o carinho da vaca
Com seu bezerro pagão
Por não ter água e sabão
Com a língua lambe a cria
Não canto sabedoria
Só sei cantar o sertão

Só sei cantar o perfume
Da rosa que nasce virgem
Mostrando a melhor origem
Crescendo em cima do cume
O farol do vaga-lume
Sem ter pilha nem bujão
De noite mostra o clarão
Jesus lhe dando energia
Não canto sabedoria
Só sei cantar o sertão

“Os meus sonhos de poeta/ Já foram realizados”

 

De porta veneziana
Eu não tenho moradia
Pra passar meu dia-a-dia
Tenho apenas a choupana
Uma garrafa de cana
E uns cadernos borrados
Dois troféus enferrujados
Na coleção incompleta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

A viola companheira
Que me ajuda todo dia
Eu viver de poesia
Adquirir minha feira
Tem quem ache uma besteira
Meus improvisos rimados
Meus versos filosofados
Bem pouca gente interpreta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

“Eu moro na capital/ Mas gosto mais do sertão”

 

Lembro daqueles caminhos
Onde passam caçadores
De sentir cheiro de flores
Pisar em ponta de espinhos
Escutar os passarinhos
Na sua dócil canção
Deixando uma gravação
No disco do vegetal
Eu moro na capital
Mas gosto mais do sertão

Aqui o comércio ilude
O trânsito é agitado
Quero é voltar pra o roçado
Pra tomar banho de açude
Onde o homem tem saúde
Mais força e disposição
Finda morrendo ancião
Sem tomar um melhoral
Eu moro na capital
Mas gosto mais do sertão

“E o que é que me falta fazer mais”

Visitei la na Grécia certa hora
Li os lindos trabalhos de Pitágoras
Bati papo também com Anaxágoras
E trouxe a chave da caixa de pândora
Passei perto da Deusa que é Aurora
Dei a ela seis raios boreais
Assisti no palácio as vestais
E de um sopro que eu dei um certo dia
Apaguei o farol de Alexandria
E o que é que me falta fazer mais

Escrevi com Camões em Portugal
Inspirei a Cervantes na Espanha
Junto a Goerte fiquei na Alemanha
E nos Açores dei nome a principal
Aos poemas de Antero de Quental
Eu andei com aedos e andrais
Já passei nos castelos dos feudais
E coloquei uma vez um trem no trilho
Fiz Olívia Palito ter um filho
E o que é que me falta fazer mais.

 “A vida é uma incerteza/ A morte é certeza pura” 

Na hora que a morte vem
Tem a sua foice armada
Que não tem medo de nada
E nunca respeitou ninguém
Com a força que ela tem
Elimina a criatura
Bota um cordão na cintura
Caixão preto e vela acesa
A vida é uma incerteza
A morte é certeza pura

“No coração da criança/ Não pode existir rancor”

Avistei um pequenino
Subindo de déu em déu
Quando chegou lá no céu
Foi falar com o divino
Gritaram – pesem o menino
Que também é pecador
Jesus disse – não senhor
Pode guardar a balança
No coração da criança
Não pode existir rancor